segunda-feira, 28 de maio de 2007

Banalização da vida


Mais uma demonstração do completo desprezo pelos valores da humanidade.


O caos urbano vitimou mais uma inocente, uma trabalhadora, que ao cumprir a sua função, sofreu a maior perda que poderia imaginar, a própria vida.


Josiane Oliveira de Santana, de 21 anos, foi assassinada após autuar uma moto estacionada em local irregular. Josiane era agente de trânsito e teve a infelicidade de, em Olinda, cruzar o caminho de seu algoz, um policial militar que estava de folga no momento do cometimento do crime. Será que essa impáfia ainda são ecos da ditadura?


Pelas informações do G1, não foi divulgado o nome do acusado, mas as placas da moto encontram-se registradas com a grafia da agente.


Nesses tempos de banalização da vida, muito nos custa enquanto formadores de opinião, relacionar valores como probidade, honestidade, decoro e retidão de caráter. Essa cólera se torna cada dia mais banal, visível e sem importância, assim como o crime é algo normal para crianças nascidas, criadas e morridas em morros de tráfico de drogas.


Esse faz-de-conta-que-não-é-comigo custa caro para todos nós, em especial porque vivemos em nossos condomínios fortalecidos com guaritas, vigilância, cercas eletrificadas, rondas, carros com blindagens, vidros escurecidos; meras bolhas sociais prestes a explodir e lançarnos ao covil dos lobos. Precisamos nos conscientizar que esse segregacionismo fomenta cada vez mais abismos sociais.


Me lembra Bertold Brecht:



Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)

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